20080731

Cai o pano.

Toda história que se passa comigo já foi contada. Já me atolei na esperança, já sofri. Já passei, e ainda passo, horas a pensar em você. Mas eu quis jogar o jogo, e agora estou pagando o preço. Toda a cena já foi atuada, os atores já vão, e levam junto meu coração. O espetáculo acabou. Cai o pano. Antes aconteça assim, pelo menos, tenho a tola esperança de não mais pensar nisso tudo. Agora acho que já não mais há tristeza nas páginas de meu livro. Estou cansado, mas isso não me livra da responsabilidade de cuidas das almas que salvei, daquelas que salvo e daquelas que luto para salvar. Ainda tenho que conviver.

Já contei meu conto. Os lírios já secaram. Me perdi no meu próprio mundo, na minha própria mente. Agora me tornei jardineiro, e cuido de jardins de flores mortas. Minhas frases já não são mais válidas. Já é hora de deixar a velha caneta de lado, e tirar as palavras do papel.

20080730

Mostre-me

Te falo sobre a luz que há lá fora, do sol que se fez ontem. Te falo do vento forte, das árvores a ser mexerem. Você não fala nada.

Chego a conclusão que tudo isso foi um mal entendido. Seria um acidente? Sim, um acindente. Mas não esse tipo que você pensa. Esses, em que se tocam sirenes, que carros aceleram desesperadamente e furam o trânsito. Tudo foi indo da “melhor meneira possível”. Se quer percebemos que no fim das contas estávamos caindo aos pedaços, necessitando assim de um socorro, daqueles, em que se tocam sirenes e em que carros aceleram desesperadamente furando o trânsito.

Nessas horas buscamos explicações. Então, explica-me. Como você nunca sentiu? Como nunca percebeu? Não se faça de delicada, inocente. Essa sua face me irrita. Pois essa sua face não existe. É como uma atriz, que encarna um novo ser, uma nova pessoa, entra em cena e vive uma coisa que não é. Me diga se ainda há dúvidas de que é inútil ter fé ou esperança nisso tudo. Isso faz algum sentido?

Me ataque ou tente me demolir. Diga que nada disso contou, que foi uma coisa vaga. Ainda mais porque, daqui, alguém sairá perdendo. Não há como voltar atrás. Você brinca e eu prego peças. Dentre tantas meninas e meninas, a escolhida é você, e não há como fugir dessa sentença. Como um jogo de pegar palitos, se lembra? Mas esse é jogado por malditos lunáticos.

Olhando nossa foto agora, me sinto tão ‘eu’ como nunca me senti. Tudo agora faz parte do passado. Será? Queria que você me mostrasse onde há amor. Me mostre o amor, até que você abra a porta. Até eu levante do chão. Até que eu grite por mais. Me mostre o amor, e me dê tudo o que eu quero.

20080729

Palhaços

Você me vê?

Todas essas lágrimas no ar, quem pode dizer onde elas vão cair? Por florestas flutuantes no ar? Através do mar impetuoso? Mando um beijo e ando pelo ar, deixo o passado e acho lugar nenhum. Florestas flutuantes no ar... palhaços em torno de você. Palhaços estão aqui para fazer você saber. Onde, de fato, você deixou de lado a razão. Palhaços em torno de você... É a cruz que eu tenho que carregar.

Todo esse negro é um cruel desespero, isto é uma emergência. Não esconda seus olhos de mim, os abra agora, e olhe para mim. Isso é uma ordem.

Você consegue me ver agora? Você consegue? Me olhe, estou flutuando, flutuando, flutuando. Me veja aqui no ar, sem me segurar em nada. Me mantendo firme, então, esteja ciente que eu tenho segredos que não compartilho. Me veja aqui te desejando. Se depois eu me negar, aceite.

Toda essa escuridão é crueldade justa. Te peço mais uma vez para que não esconda seus olhos de mim. Consegue me ver agora? Espero que sim.

20080728

Bolso do Sobretudo.

Durante todo o dia fugi de mim mesmo e de meus pensamentos que te perceguiam. Acordei um pouco depois da manhã, abri o guarda-roupa e estiquei o braço ao fundo. Peguei aquele velho sobretudo, que comprei naquela viagem que fiz no inverno de dois anos atrás. Estava meio empoeirado, mas nada como umas boas batidinhas no ar. As particulas do pó pairando sobre o ar, e a luz do sol contra as mesmas, faz-me assimilar isso tudo a mim e meus pensamentos. Estão por ai, soltos. Pairando. Contra a luz. No ar, para quem quiser. Sem compromisso ou alguma coisa a ver com o que há. Bate contra a luz, e voa por ai. Meus pensamentos soltos, que me fizeram ficar parado por muito tempo, e só me dei conta agora. Pensamentos que de certa forma me complicaram contra minha pessoa. Fiquei parado. Estava esperando algo. O que? Não sei.

Saí à rua olhando tudo a minha volta, como sempre faço. Os sons, as cores, os ruídos, as pessoas, todos aqueles rostos que passam pelo meu olhar. Tudo se fundiu. Mais uma vez os pensamentos que antes de me perceguirem, te perceguem. O mais engraçado é que eu possa estar em qualquer lugar, por entre todos esses rostos, começo a procurar o seu. A cada rua, quadra, avenida, esquina. A cada passo. Por mais que eu saiba que isso não acontecerá, ainda carrego a tola e insignificante esperança.

Vou andando mais rápido, tenho pressa. Chegar atrasado mais uma vez acabaria comigo. Perco mais um compromisso. Ajeito mais uma vez o sobretudo que comprei no inverno de dois anos atrás. Eu era mais magro do que sou hoje. "A dois anos atrás". Meu passado. Queria poder fugir dele. Ele também corre atrás de mim. E ele, com certeza, está vindo, e chegando cada vez mais perto, querendo me apunhalar e acabar comigo. E nem está se importando se eu acertei ou não com minhas atitudes. Ele está por vir. E não está nem ai.

Ando mais um pouco. Mais rostos. A procura continua. O fracasso também. Muitas pessoas parecem não entender meu ponto de vista. Acham que eu erro sempre, em todas as atitudes. Acham que eu devo colocar tudo a perder por meras palavras, que podem derrubar o que ainda está sendo construído. Elas não entendem o que sinto. Nessa horas me sinto um maníaco psicopata. Sabe, aqueles pessoas que fazem coisas que ninguém entende? E que em muitos momentos são repudiadas, abandonadas? As vezes me acham louco por pensar em você, na sua presença. Não me importa os que não me entendem. Arrumo o sobretudo do inverno de dois anos atrás e faço um ar de "pomposo", como quem relamente não se importa, ou não quer saber. Tudo o que preciso saber é que você, querendo ou não, é uma pessoa que me ajuda, e me torna melhor. Tudo o que eu preciso saber é que você está do meu lado quando tudo isso vem a tona. Mas, infelizmente, não está quando você me vem a tona. O sobretudo aperta mais uma vez.

Arrumo mais uma vez aquele sobretudo, já meio batido, afinal, é de dois invernos atrás. Ele está colado no corpo como nunca esteve. Sinto que todos ao meu redor me olham de maneira estranha, não sei explicar. Entro naquela cafeteria, peço um café grande, bem forte e com aroma de vanilla. Isso consegue me acalmar em qualquer hora. Sento a mesa e choro. Choro por não mais saber o que fazer e por estar confuso. Odeio não ter minhas idéias no lugar. Choro por quere fugir de tudo isso. Por querer fugir dos meus pensamentos desgraçados e do passado. Sinto uma dor no abdome, o sobretudo me aperta.

Saindo, arrumo mais uma vez o sobretudo, já estava começando a me irritar. Coloco a mão no bolso. Quando olho o bolso, lá está ele. Meu passado. Ele me achou.

20080727

Título?

Outro dia estava eu, com uma amiga, pensando sobre a vida. Chegamos a conclusão de que o perfeito é uma coisa de dar medo, que no fundo não somos prontos para o perfeito, e nem o queremos. Sempre sonhamos com algo assim, 'perfeito', mas quando achamos entramos em parafuso, precisamos achar algum tipo de defeito, e se não conseguimos, passamos apenas a ter medo. História confusa, não? Então vamos do começo.

Quando você surgiu em minha vida, você não passava de mais uma pessoa, cheguei a ter aqueles pensamentos, mas você me surpreendeu. Vi a pessoa boa que você é, vi o tão quanto 'do bem' você é. Até ai tudo bem, pessei a te ter em meu coração como uma amizade incondicional, sem limetes, e com aquele amor de cuidado, querendo te proteger, te ajudar e te entender. Mas acho que você é algo que eu jamais entenderei.

Acontece que nos últimos tempos, percebi que toda aquela imagem que eu tenho de você cresceu mais e mais, e tudo só se confirmou. Vi que você é mais especial do que eu pensava. E agora esse sentimento incondicional de amizade está confuso na minha cabeça.

Pensei muito sobre, acho que não vale a pena arriscar tudo. Então, decidi cuidar de você, mas acho que você não precisa de cuidados, e que toda aquela imagem de pessoa retraida e quase sem vida que eu tinha de você, foi pelo ralo, pois na verdade, ela não existe. Mas todo aquele amor incondicional que eu tenho, ainda existe, e meu maior medo é mesmo, ele está confuso, e não sei se toda essa amizade por mim você sente de forma múltua. Tenho medo, e se nascer uma borboleta entre seus cabelos?* Não quero uma borboleta, independente de sua cor.

Como acho que já disse, desencanei. E passo a ter minhas dúvidas de se realmente não quero nenhuma borboleta. Mas ainda não estava pronto. Ver aquela cena e todo o acontecimento em si, realmente me deixou pensativo (e meio acabado). Por diversos motivos. Pelo sentimento em confusão, pela situação, por você, e por pensar que esse tipo de coisa não acontece comigo. Não acontece? na verdade sim, acontece. Mas acontece no mundo da fantasia que eu criei na minha vida e me deixei entrar, e fiz todos acreditarem nesse mundo. Agora esse mundo entra em conflito comigo mesmo, pelo motivo dele não existir e eu querer morrer com isso.

Enfim, chega. Prefiro agora ficar pensando e, meio que, ficar me matirizando, ficar sofrendo. Sofrendo pelo sentimento em confusão, e pelo maldito mundo que eu criei, e que agora cai na minha cabeça. E que não venha a nascer nenhuma borboleta na minha cabeça, ou entre meus cabelos.



*Para entender a coisa com borboletas, leia "Uma história de borboletas", de Caio Fernando Abreu. Garanto que vale a pena.

20080724

Fotografia empoeirada

Vivi tanto tempo numa fotografia escura, jogada no canto da gaveta... Empoeirada, manchada, virada de costas para a luz.
Tanto tempo estática, tanto tempo contemplando o sorriso mais falso, o cabelo mais arrumado, que esqueci...
Esqueci-me de quais são as cores da vida, quais são as cores dos teus olhos, tão lindos olhos que tanto me alegravam.
Esqueci-me das multifacetas do cristal, do cheiro das flores, do arder do sol.
Esqueci-me do tato, do carinho, do arrepiar.
Da calmante sensação que é o entardecer, do alívio e prazer que é sentir o sereno na madrugada.
Do beijo na testa, dedos entrelaçados, café da manhã na cama.
Esqueci-me de tudo e todos, por ter sido esquecida, lá, no canto escuro da gaveta, com um sorriso bobo, virado de costas para a luz.(...)

Vivi tanto tempo na fotografia que me esqueci do que é vida.
Gostaria de lembrar.



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Não sei mais onde pôr parágrafos!

Enfim... Isso é um tanto antigo. Não têm acontecido muitas coisas legais de se escrever sobre. Desculpe.